Boas chuvas com veranicos em
meados de março e de abril, mas com um bom volume pluviométrico no fechamento
deste primeiro semestre; foi como a maioria dos sertanejos elaboradores de
previsões do clima e do tempo com base das suas observações diagnosticou o
período meteorológico mais esperado pelos agricultores cearenses, a quadra
chuvosa do começo do ano.
Dos 25 participantes do 23º
Encontro dos Profetas da Chuva de Quixadá, realizado nesse sábado (12) na
Faculdade Cisne, apenas três apontaram diagnósticos pessimistas para este ano.
Um deles foi Paulo Costa, um dos mais respeitados por suas previsões apuradas.
Ele chegou a registrar um desvio negativo de até 180 milímetros na média
histórica pluviométrica no Estado.
Mesmo assim, o odontólogo de 72
anos ressaltou não ser motivo para quem se dedica ao cultivo no campo ou criar
animais na caatinga, região muito árida do País, se assustar. A média deverá
ser igual à do ano passado. Período bom mesmo somente a partir de 2020. Será
uma década de chuvas abundantes, lhe asseguraram os astros aliados à sua
numerologia, baseada em apontamentos científicos.
Todavia, o público estava mais
interessado em saber das previsões da única profetisa a participar este ano do
Encontro, a professora de 81 anos Maria de Lurdes Leite, tratada carinhosamente
por "Lurdinha Leite", otimista quanto ao inverno, amparada na sua fé
e na tábua de Santa Luzia, onde coloca porções de sal sobre os meses do ano e
de acordo com a reação do mineral de uso doméstico. Quando fica úmido no dia
dedicado à santa, 13 de dezembro, é bom sinal.
O agricultor Renato Lino,
também de Quixadá, resolveu convencer o público sobre a sua previsão expondo um
ninho de joão-de-barro. A fé religiosa continua a mesma, mas os sinais da
natureza dão mais segurança. Além dos pássaros, os insetos, a vegetação, não se
enganam. Por conta de saber analisá-los não passa por mentiroso. Quanto maior o
sinal, maior é a probabilidade de acerto. O deste ano é dos bons, apontando
para fartura no campo.
O poeta Erasmo Barreira foi
mais além, e pela colmeia de inchuí exposta aos convidados e à plateia, se os
pequenos insetos melíferos tiveram tamanha disposição é porque a carga d água
será ainda maior. A peça, extraída das matas da sua propriedade é prova para
derrubar o pessimismo de qualquer um. Sempre inspirado, ele encerrou sua
apresentação fazendo uma homenagem à esposa, Rita Barreira, falecida há três
meses.
Quem também recebeu homenagem
de João Soares e Helder Cortez, idealizadores e organizadores do maior Encontro
de Profetas da Chuva do Ceará, criado em 1997, foi o radialista e profeta
popular Ribamar Lima. Ele morreu no dia 7 de outubro passado. Sempre atencioso
com a imprensa, fazia questão de ressaltar que, além do aspecto cientifico-empírico,
o evento assegura a preservação desse costume herdado de pai para filho, mas
com um número cada vez menor de herdeiros interessados.
Reconhecendo a importância e a
necessidade de se preservar essa tradição, o deputado estadual Guilherme
Sampaio Landim pretende apresentar projeto de Lei na Assembleia Legislativa
pela criação do Dia Estadual do Profeta da Chuva, segundo sábado de janeiro.
Pela iniciativa ele recebeu uma homenagem especial de João Soares e Helder
Cortez. O presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece),
Neurisangelo Cavalcante de Freitas e a presidente do Instituto Agropolos do
Ceará, Ana Teresa Barbosa de Carvalho também.
Helder Cortez ressaltou o
encontro tradicional em Quixadá, modelo para outras regiões, como além de despertar
o interesse popular pela previsão meteorológica do inverno sertanejo, um
momento de confraternização e de consolidação desse costume, motivo de sempre
atrair um grande público. Este ano foi mais de 400 visitantes. Todos foram
recebidos com café da manhã e almoço no campus da Cisne.
Sobre as previsões, avaliou as
revelações dos profetas como de um "inverno na média", similar ao ano
anterior.
Governo
O papel do Governo do Estado,
diante da expectativa do agricultor quando o período regular do plantio se aproxima,
é prestar assistência a ele, segundo secretário do Desenvolvimento Agrário do
Estado, De Assis Diniz, que acompanhou o encontro. Além do suporte técnico, a
distribuição de sementes, na hora certa, busca evitar frustrações e perda da
lavoura na cultura de sequeiro.
Site: Diário do Nordeste
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