Nos quatro primeiros meses de 2019, choveu 12,6% a
mais que a média histórica. Contudo, a distribuição espacial foi irregular, e
municípios do Centro-Sul do Estado sofrem com cenário de escassez hídrica
A tendência
para os próximos meses é de redução nas precipitações no Ceará, mas a quadra
chuvosa deste ano deixou um saldo positivo na situação geral dos açudes do
Estado. Hoje, o volume total está em 21,4%, ou seja, 11 pontos percentuais
acima dos 10,4% acumulados no dia 1º de fevereiro, de acordo com o Portal
Hidrológico do Ceará. Mesmo assim, os órgãos de gestão hídrica lamentam, pois
não choveu bem onde realmente importa.
O cenário é
mais complicado em 11 cidades com situação crítica no abastecimento d'água,
impactando cerca de 308 mil cearenses.
Monsenhor
Tabosa, Quixeramobim, Caririaçu, Mombaça, Parambu, Salitre, Piquet Carneiro,
Tamboril, Irauçuba, Pereiro e Pacoti têm situação "vermelha" no
mapa-situação da Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos (SRH), o que indica
risco de colapso do manancial principal até julho deste ano ou abastecimento
insatisfatório. Mombaça, no Sertão Central, por exemplo, entrou no quarto ano
consecutivo sendo abastecida somente com poços, conforme o titular da SRH,
Francisco Teixeira.
"No Centro-Sul,
tivemos chuvas da média pra baixo, por isso temos preocupação com alguns
municípios do interior. Mas são meia dúzia de cidades. Com muito trabalho e
esforço, dá pra contornar a situação e garantir o abastecimento", estima.
Medidas
O presidente
da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias,
reforça que, simultâneo ao diagnóstico, são planejadas ações para minimizar o
problema, "seja pela transferência de água por adutoras ou construção de
uma grande bateria de poços". Nas demais regiões do Estado, sobretudo na
Zona Norte, diz Teixeira, "há um conforto maior". "Dá pra
garantir a distribuição, pelo menos, por mais dois anos. As chuvas, embora não
venham mudando a realidade dos grandes reservatórios, podem ajudar a contornar
a situação do abastecimento humano", diz. Responsáveis, juntos, por 60% do
volume de água do Estado, os açudes Castanhão, Banabuiú e Orós estão,
respectivamente, com apenas 5,50%, 8,10% e 9,15% de armazenamento.
Quadra
chuvosa
Neste ano,
choveu 12,6% a mais que a média histórica do período chuvoso, de 600,7
milímetros, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme). Os 676,3 milímetros registrados neste ano colocam 2019 como o
terceiro ano com maior índice pluviométrico das últimas duas décadas, atrás
apenas de 2008 e 2009.
Os dados
deste ano confirmaram o prognóstico da Fundação, divulgado em janeiro, que
apontava 40% de chance de as chuvas ficarem em torno da média histórica.
Capital
Com o
Castanhão e o Orós em situação delicada, o abastecimento de Fortaleza e da
Região Metropolitana (RMF) dependerá exclusivamente dos açudes da própria RMF,
pelo menos até o fim da quadra chuvosa de 2020. A decisão dos órgãos hídricos
se baseia na constatação de que o atual volume de 11,9% acumulado no sistema
Jaguaribe-RMF é pior que os 19,2% registrados em outubro de 2015, quando foi
promulgado o Ato Declaratório reconhecendo a situação de escassez hídrica no
Estado.
"Os
reservatórios da RMF estão com 81% de volume, mas eles, sozinhos, não dão garantia
absoluta pra Região. Eles precisam periodicamente da contribuição do Castanhão
e do Orós, mas eles não têm condições de aportar água no momento. Se não
continuarmos economizando, aumentamos o risco do desabastecimento, se não em
2020, em 2021", projeta o secretário Francisco Teixeira. Por isso, a
tarifa de contingência, que aplica uma taxa extra a quem exceder o consumo,
permanecerá em vigor por mais um ano, segundo o presidente da Companhia de Água
e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuri Freiras. "Necessitamos manter a tarifa e
controlar o consumo para evitar problemas mais adiante, a partir do ano que
vem", afirma.
Dos mais de
983 mil clientes da Cagece na RMF, cerca de 75% conseguem atingir a meta,
conforme o órgão. Os outros 25%, que representam 234 mil clientes, extrapolam a
meta. Apesar disso, Neuri percebe uma queda no consumo. "Quando olhamos
para a média de consumo, em 2014, tínhamos até 14,3 m³ por mês, por família. No
último mês de abril, esse dado foi de 10,16 m³ por família". O presidente
do órgão reconhece que é difícil diminuir ainda mais porque o número já se
aproxima do limite mínimo de consumo.
Até abril
deste ano, mais de R$ 320 milhões foram arrecadados com a tarifa. Os recursos
são destinados, conforme a Cagece, a ações para a garantia da segurança hídrica
e redução de perdas, como construção de adutoras e estações de tratamento,
setorização da distribuição e substituição de redes.
Fonte:Cearáemoff
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